Ilda David

Navigatio Sancti Brendanni Abbatis

Painel de azulejos de 3X9 metros onde se podem estabelecer vários paralelismos com textos da Antiguidade Clássica (Virgílio e Ovídio, nomeadamente) e cristã (a literatura da navegatio conventual). Este diário de viagens contêm ainda alusões à tradição bíblica, aos contos de aventura árabes e aos mitos persas.

Ilda David nasceu em Benavente, em 1955. É uma das mais destacadas pintoras portuguesas contemporâneas. Frequentou o curso de Pintura da Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa entre 1976 e 1981.

Pintora, gravadora e ilustradora, tem realizado exposições individuais desde 1983. Após a obra “Navigatio Sancti Brendani Abbatis" executou outras peças para azulejo, algumas das quais integraram a representação portuguesa à 17.ª Bienal Internacional de Cerâmica Contemporânea de Vallauris, França, em 2000.

Tem trabalhado também na área da ilustração, acompanhando livros de autores portugueses e estrangeiros - um dos mais conhecidos é a obra Fausto de Goethe, editada pelo Círculo de Leitores e Relógio de Água e que deu origem à exposição intitulada "Incubus" na Sala Jorge Vieira do Pavilhão das Exposições, no Parque das Nações, em Fevereiro de 2000.

Ilda David trabalha o conceito de “tempo” e a sua visualização literária. Nas suas pinturas está presente tanto a imagem como a palavra, apesar de nenhuma delas estar perfeitamente formada ou ser passível de se distinguir entre si. Recorda os mitos clássicos, coloca as personagens em espaços bidimensionais e oníricos (coloridos ou escurecidos) e em arquétipos – anjos, animais simbólicos, etc. A sua pintura, apresentada como expressão de um processo de génese, permite ao observador aceder ao conhecimento de algo que é importante apesar de tomado de uma forma quase inconsciente.

Ilda David consegue evidenciar, através da pintura, um universo poético, intenso e onírico – a que nos habituáramos a aceder quase exclusivamente pela escrita. Deu-nos a ver, com intuição e saber poético, figuras imponderáveis, suspensas e intemporais, subtis referências líricas, uma delicada contenção metafórica, sugestivos mistérios, ocultações, diluídos em palimpsestos numa textura de lineares rupturas, deixando entrever mistérios e segredos subjacentes.

Disse numa entrevista à edição online do Círculo de Leitores que quando ilustra "quer que haja uma relação muito próxima com o texto. Quando fixo uma imagem, é como se estivesse a querer escrever uma ideia para não me esquecer. Só que não a escrevo, desenho-a. Passados dias, podia fazer uma imagem diferente. O texto é tão subtil. Ainda que seja possível a discordância, ele permite fazer sempre inéditos. A sua riqueza pode representar-se de tantas formas. Por vezes, a mesma imagem explora-se em perspectivas várias. E o texto não é traído. Aproximo-me da eloquência do texto com uma mão cheia de possibilidades.”